quinta-feira, 8 de março de 2012

O - Operador do Direito

Eu achava essa expressão bonita. Quando era caloura. Claro, na voz de locutor do professor de Introdução ao Estudo do Direito, qualquer expressão nova parecia algo incrível, ainda mais quando não se pra pra pensar no que se fala. Falar dos operadores do direito era legal porque é meio difícil falar de todo mundo que está nesse mundo jurídico. 

Não existe um direitólogo, direitologista, ou direitador. Bacharel em Direito é coisa que ninguém quer ser. E jurista parece tão pretensioso... eu adotei essa palavra, mas às vezes hesito em usá-la quando me refiro a mim. Não sei, não, mas um jurista parece ser uma pessoa que entende muito de direito, o que não é o meu caso. Cinco anos estudando é nada, né? Parece muito mais modesto ser um operador do direito do que um jurista. Mas o que há de errado em ser um operador do direito? É lógico que um operador opera alguma coisa, e a profissão de operador é muito digna, acontece que operador e direito não combina.
Operador: bom, é alguém que opera alguma coisa, certo? Operador de caixa, operador de retroescavadeira, operador de telemarketing, operador de brinquedo do Hopi-Hari... Todas essas profissões remetem a uma pessoa que lida com um sistema que oferece todas as respostas necessárias. Preciso passar o cartão de crédito? É só operar a máquina de cartão. Preciso retirar um monte de entulho de um lugar pro outro? Basta saber operar a máquina que ela faz o trabalho. Quer estar encerrando a sua conta? É só esperar oitenta minutos e falar com vinte e quatro seções do call center que o sistema opera, minha senhora!
Mas por que não combina? Porque o direito não tem todas as respostas! Não dá pra inserir o problema, fazer uma operação e encontrar uma resposta simples no sistema jurídico o tempo todo. Quase nunca isso acontece, porque o direito é vida, e a vida é dinâmica. Nós precisamos de respostas diferentes o tempo todo, enquanto precisamos de respostas estáveis também. Por isso que o sistema jurídico precisa ser estável, com leis, normas, essa coisa toda, mas com uma peça fundamental: o humano. 

Sem o humano criativo o sistema não funciona. O jurista não opera o direito, ele faz parte do direito. Ele está dentro do sistema, faz parte da solução. É assim que conseguimos encaixar as expectativas de como as coisas devem funcionar com as soluções inusitadas para os problemas que o sistema não pode prever. Por isso, nada de querer operar o sistema do direito, viu? Ele não tem as respostas, quem tem é o jurista que mora dentro dele.

2 comentários:

  1. Não são apenas os estudantes de direito que passam por este dilema. Eu quase me formei em filosofia, mas mesmo sem ter concluído o curso me pegava pensando o que eu seria depois de formado. O termo bacharel soava muito estranho, por outro lado uma graduação não transforma ninguém em filósofo.....

    Mas no final acabei me confortando com a idéia de que não estava sozinho. Isso deve acontecer com história, geografia, letras, etc

    Agora tem um lado positivo: direito é o único curso em que o graduado já sai "doutor". hehehehe

    Abraço

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  2. Gostei, gostei muito, mas para ser operador de algo ou alguma coisa, não é preciso que o sistema utilizado tenha uma resposta certa. O operador de retroescavadeira, por exemplo, pode encontrar situações inusitadas que requeiram a imaginação e a criatividade para executar o serviço, sob o risco de comprometer vidas ou "ferrar o serviço". Para ser operador, basta saber usar o sistema para buscar a melhor solução, ainda que não seja a definitiva ou ideal. Então teoricamente, quem lida com o direito, pode ser um operador do direito.

    E Wuilerson, quanto a ser filósofo, não é a quantidade ou qualidade do saber que infere o título a alguém, mas a vontade de saber. Um diploma de filosofia não tem o dom de transformar alguém em filósofo, pois isso não é uma profissão, mas uma disposição do espírito. Muitos se formam em filosofia mas não fazem nada além de servir de eco das vozes de seus professores. Então relaxe e aproveite o dia :)

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